Minha vida com Dulce foi um conto de fadas. Não há outra maneira de descrevê-la, a não ser dizendo que eu vivi um grande amor.
Dulce foi uma grande amiga, a minha melhor amiga. Ela também era uma amante fantástica. E Dulce foi uma mãe maravilhosa. E filha. E irmã. E Dulce me deu duas crianças lindas. Em todos os momentos, Dulce foi uma esposa fantástica, uma grande companheira, e eu tenho muito orgulho de ser seu marido.
Antes de nos casarmos, meu Pai me disse que não importaria onde eu chegasse na minha vida, que Dulce sempre seria um trunfo, nunca me segurando, mas sempre me empurrando para frente. E ele estava certo.
Quando eu penso nas características que fizeram com que Dulce fosse especial, há tantas que me vem à mente. Talvez a primeira fosse a sua energia e seu entusiasmo. Todas as vezes que Dulce se empenhava em fazer algo, dava 110% de si. E ela sempre terminava o que havia começado, não importando se era lavando a louça ou fazendo pressão para a construção de novas escolas. A melhor parte era que esta energia e este entusiasmo eram contagiantes.
Outras características de Dulce eram a confiança e o auto-respeito. Ela sempre tinha elegância e dignidade em qualquer situação. E Dulce sempre soube que sua opinião tinha valor e ela enfrentava qualquer um para fazer sua opinião ser ouvida. Esta força vem de dentro e me sinto muito feliz quando vejo a mesma característica em nossos filhos.
E também havia o lado alegre e o charme de Dulce. Ela adorava brincar com as pessoas e envolvê-las em brincadeiras, inclusive comigo. E o orriso de Dulce iluminava qualquer lugar. Ela era ótima para conhecer pessoas novas e era sempre uma anfitriã perfeita. Eu adorava ter festas em casa simplesmente por causa de Dulce.
Dulce era muito bondosa e generosa. Ela dava livremente seu tempo e suas possessões, e levava os outros a fazerem o mesmo. Eu admito que muitas das coisas que fiz foi por insistência de Dulce. Sim Mãe, foi a Dulce que muitas vezes me mandou telefonar.
A família sempre foi muito importante para Dulce. Ela era um exemplo tanto para a minha família como para a dela. Muitas das férias que tiramos foram dedicadas para estarmos com a família. Este é o motivo pelo qual dirigimos um Chevette por 13 anos. Quando tinhamos que optar entre um novo carro ou ir em visitarmos a família no Brasil, a família sempre ganhou. E Dulce sentia que a bondade e a generosidade começavam dentro da família. A família sempre veio em primeiro lugar.
Abaixo deste exterior delicado, entretanto, existia um caroço sólido como uma rocha. Dulce tinha tanta disciplina e auto-controle. Ela nunca se deixava levar por coisas frívolas, e nunca gastava muito dinheiro consigo mesma. Eu nunca vi Dulce bêbada em minha vida, e ela nem fumou e nunca fez nada pior ainda. O auto-controle só era um problema com relação à chocolates ou quando comprava decorações para o Natal.
Dulce tinha também um compasso moral rígido e verdadeiro. Ela estava sempre muito preocupada com o certo e o errado, e tinha uma alta expectativa de todos. A maior parte da sua frustração na vida era causada pela constatação de que a maior parte do mundo não vive segundo os seus padrões. Mas eu sempre soube que sempre podia confiar em Dulce de todas as maneiras, sem nunca duvidar. Isso foi importante para construirmos um grande casamento.
E finalmente, eu penso sobre a coragem e fé de Dulce. Certamente
foi preciso ter coragem e fé para que ela se casasse comigo e deixasse
seu País. Mas verdadeiramente essas características
se salientaram durante sua batalha contra o seu câncer. Sempre
que se encontrava diante de opções de tratamentos, Dulce
optava pelo mais forte, não se importando com os efeitos colaterais.
Eu sei que ela teria se submetido a qualquer coisa, não importando
quão dolorosa, a fim de estar hoje aqui com Alicia e Richard.
E durante todo o tempo, ela tinha tanta fé de que tudo estaria bem
no
final. Por causa desta fé, tudo estará bem.
A coragem de Dulce continua a me surpreender. Ela raramente chorava,
e ela certamente nunca admitiu abertamente que ela morreria. Dulce
sempre era positiva. E ela se manteve preocupada com os outros até
o fim. A força de vontade de Dulce pareceu ser o que a manteve
durante suas semanas finais, pois ela foi mudada e fortificada durante
sua provação.
Quando Dulce foi submetida à cirurgia no cérebro, acho que ambos pensamos que ela talvez não sobrevivesse, e ela quase não sobreviveu. Então Dulce sentiu que lhe havia sido dada uma segunda chance. Daquele momento em diante nunca houve uma palavra àspera para ninguém. E Dulce insistia dizendo que queria se tornar uma missionária. Nisto também ela obteve sucesso. Por causa do câncer de Dulce, tantas pessoas se prontificaram a ajudar e fizeram coisas maravilhosas. Eu tenho que acreditar que muitas tenham sido trazidas para mais perto de Deus e que muitas serão recompensadas pelo que elas tem feito.
Mas já chega de se falar em câncer, quando há tantos momentos bons para serem lembrados. Como nosso primeiro beijo. Ou o nascimento de cada um de nossos filhos. Ou os vários fins de semana em Creston, ou em Whistler, ou no Havaí, ou no Brasil. Ou apenas deitados na cama, conversando um com o outro até o amanhecer.
Se ao menos pudessem existir mais momentos como os que você amava, como uma pescaria, uma corrida de ski-doos, como as decorações de Natal, ou como quando você cuidava de todas aquelas crianças da creche. Mas agora só podem existir as memórias.
Dulce Estrella, seu nome significa "doce estrela". E é isso que você tem sido, enriquecendo e iluminando as nossas vidas.
Dulce, eu te amei desde o primeiro beijo. E eu ainda te amo. E este amor cresceu e se transformou em profundo respeito por quem você é e pelo que você representa. Eu ainda não consigo acreditar na minha boa fortuna. Foi um privilégio ter sido seu marido. Que o Senhor me guie, e que nos guie a todos, para que possamos estar juntos novamente. Eu te amo. Nós te amamos. Adeus, meu amor.
Kevin...